Barco naufragado em Ingleses no século 17 era pirata, dizem pesquisadores

Detalhes do navio pirata no Museu do Naufrágio, em Ingleses – Flavio Tin/ND. ANDRÉA DA LUZ, FLORIANÓPOLIS

Embarcação espanhola tomada no Peru por ingleses revela um tesouro arqueológico e ajuda a desvendar a história da Ilha

O barco naufragado no século 17 na praia de Ingleses, no Norte da Ilha de Santa Catarina, era pirata, segundo pesquisadores da ONG PAS (Projeto de Arqueologia Subaquática). A descoberta aconteceu em 2011, mas só agora foi revelada pela organização.

Segundo o historiador Amílcar D’Avila de Mello, a embarcação espanhola, chamada Nuestra Señora de Aránzazu, teria sido roubada no Peru e trazia uma tripulação de oito piratas ingleses, liderados por Thomas Frins. O barco integrava uma frota pirata composta por 900 homens, ingleses e franceses, que teriam saqueado colônias espanholas no Pacífico de 1684 a 1687.

Depois de se perder da frota e ser perseguido pelos espanhóis, Frins teria tentado voltar à Inglaterra pelo Atlântico, mas quando chegou a uma praia do Norte da então Vila de Nossa Senhora do Desterro, na Ilha de Santa Catarina, foi capturado pelo fundador da vila, o ex-bandeirante Francisco Dias Velho, que o prendeu e o mandou para Santos, no litoral paulista. Um ano depois da prisão, Frins voltou a Desterro e matou Dias Velho, no local onde hoje fica a Catedral Metropolitana, no Centro de Florianópolis.

O barco ficou abandonado em frente à praia e ficou se deteriorando até que afundou. O naufrágio está registrado nos livros de história como ocorrido na praia de Canasvieiras, mas supõe-se que toda a região, incluindo a de Ingleses, era chamada assim.

Daniel Rian mostra botijas e partes delas, encontradas no fundo do mar, em Ingleses – Flavio Tin/ND

O episódio não só marca a história da Capital como evidencia a importância histórica dessa descoberta, que ocorreu quase por acaso, quando o pescador submarino Alexandre Viana encontrou uma botija antiga na parte rasa do mar, em Ingleses, em 1989, 320 anos após o ocorrido.

Com a descoberta de vários outros objetos naquela área, Alexandre se associou a dois outros mergulhadores – Narbal Corrêa e Marcelo Lebarbechon Moura, fundando o PAS para investigar a origem das peças. A pesquisa começou em 2004, com R$ 2,4 milhões em investimentos feios pela Fapesc (Fundação de Apoio á Pesquisa Científica e Tecnológica no Estado de Santa Catarina).

No entanto, desde 2010, os trabalhos de escavação foram interrompidos por falta de verba. O museu, que é aberto ao público e funciona todas as tardes de terça a domingo (com exceção do último domingo do mês), é mantido pelo Costão do Santinho Resort, que cede o espaço de 40 metros quadrados e materiais para conservação do que já foi resgatado.

Conforme o presidente do PAS, Narbal Corrêa, a ideia é fazer um novo projeto para captação de verba por meio de leis de incentivo à cultura e retomar os trabalhos. “Vamos nos reunir daqui a 15 dias para discutir isso. Queremos continuar as escavações, equipar o laboratório e construir um espaço adequado para o museu, além de tirar o leme da água doce e conservá-lo em polietileno glicol para garantir sua conservação adequada”, explica Corrêa.

Segundo Daniel Rian, que é funcionário do resort e cuida do Museu do Naufrágio na sede do PAS, em Ingleses, até agora foram escavados apenas 30% do sítio arqueológico marinho, resgatando cerca de 35 mil artefatos, que incluem o leme da embarcação – peça de carvalho vermelho de quase uma tonelada que fica imersa na água em frente ao museu, quase 300 gargalos de botijas usadas para transportar mantimentos, balas de revólver e de canhão, lastros móveis e fixos, solas de sapatos, vestimentas, relógios de sol, fragmentos de ossos, pentes de madeira e o sino de bronze do barco, entre tantos outros itens.

Leme e parte da quilha da embarcação pirata encontrada nos Ingleses – Flavio Tin/ND

“Precisamos de verba para escavar o restante, para fazer o tratamento das peças, ter um lugar climatizado para conservá-las e para receber o público”, diz Daniel, em meio a imensidão de peças catalogadas sobre o balcão, nas prateleiras e caixas que preenchem quase todo o espaço do museu. O local recebe visitas o ano inteiro, de turistas, moradores e estudantes locais. “Foram recebidas quase 3,5 mil pessoas o ano passado e, nestes 14 anos, mais de 27 mil passaram por aqui”, revela, orgulhoso.

Além de receber o público e contar os detalhes dessa história, Daniel também é responsável pelo tratamento das peças. Apenas o leme demanda troca de água a cada 15 dias, e Daniel ainda faz a catalogação e armazenagem dos fragmentos encontrados, a dessalinização e secagem das peças.

Cada um dos milhares de objetos revelam partes do quebra-cabeças e ajudam os pesquisadores a decifrar o que ocorreu há mais de 300 anos. Segundo Narbal Corrêa, essa é uma das maiores escavações subaquáticas do mundo. “Quando começamos, achei que ia abrir um baú e ficar rico. Mas quando começamos a encontrar as peças, as solas de sapatos, tantos artefatos que revelam parte da nossa história, percebi que aquele era o verdadeiro tesouro”, afirma o presidente do PAS.

Serviço
O que: Museu do Naufrágio
Quando: de terça a domingo, das 14h às 20h (exceto último domingo do mês)
Onde: no canto direito da praia de Ingleses
Quanto: gratuito

Fonte: https://ndonline.com.br/noticias/barco-naufragado-em-ingleses-no-seculo-17-era-pirata-dizem-pesquisadores/ (30/03/2019)

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