Ação dos piratas está fora de controle nos rios

Quem depende do rio para se locomover é quem mais sofre com a violência no Pará, de acordo com informações de ribeirinhos, pescadores, prefeitos, e da comunidade em geral que reside nas regiões onde o principal meio de transporte são embarcações. A reclamação sobre a insegurança nos rios paraenses gerou debate ontem na Assembleia Legislativa, em uma sessão especial proposta pelo deputado Chico da Pesca (PT), que contou com a presença de representantes da segurança pública do Estado, Capitania dos Portos, Ministério Público, dos municípios do arquipélago do Marajó e do Baixo Tocantins, além de representantes de colônias de pescadores de todo o Pará, entre outros.

Há ribeirinhos que já foram assaltados mais de dez vezes em apenas um ano. Outros desistiram de morar à beira do rio, onde a locomoção é mais fácil, porque não aguentam mais a ação de piratas, que assaltam com requintes de crueldade as famílias ribeirinhas. A grande maioria vem vender a produção de pescado e da pequena agricultura no Ver-o-Peso, em Belém, mas tem sido surpreendida com a ação dos piratas.

A situação pior é da população do Marajó, com 16 municípios e mais de 400 mil habitantes e o pior índice de desenvolvimento humano do país. O policiamento é insuficiente, 12 dos 16 municípios não possuem sequer uma agência bancária, o que força comerciantes e prefeitos a circularem nas embarcações com dinheiro vivo. Mas o que mais preocupa a população é o isolamento entre as cidades locais.

Maria Gorete da Silva, da comunidade do Tartarugueiro, em São Sebastião da Boa Vista, já foi assaltada nove vezes desde 2009 até abril deste ano, quando teve toda a carga roubada da embarcação da família, numa viagem para a capital, e foi amarrada junto com os outros passageiros. “É preciso que as autoridades olhem para o Marajó e nos ajudem, não temos mais a quem recorrer!”.

Fernando Feio, presidente da Colônia de Pescadores de Cachoeira do Arari, afirma que é muito difícil encontrar um pescador que não tenha sido assaltado no trecho entre Marajó e Belém nos últimos seis anos. Ele ressalta que muitas famílias estão abandonando as colônias rumo às sedes das cidades com medo da violência. “A situação tem piorado nos últimos anos. Estão roubando até os peixes que levamos para vender no Ver-o-Peso”.

Situação semelhante de violência viveu o coordenador do Movimento de Pescadores do Pará (Mopesca), Tomaz Ribeiro, de Ponta de Pedras. Em parceria com o governo federal, a entidade conseguiu construir um entreposto pesqueiro na ilha de Outeiro, onde também funcionava uma fábrica de gelo para os pescadores associados armazenarem a produção. Em 5 de março deste ano, eles foram surpreendidos por 12 piratas fortemente armados, que chegaram de embarcação a motor pelo rio Maguari, renderam os trabalhadores, surraram alguns deles, incluindo Tomaz, e levaram todos os equipamentos do entreposto, inclusive quatro computadores doados pelo governo federal. “Desde lá a gente está em pânico e com dificuldades de armazenar a produção.”

AÇÃO
Os participantes na sessão especial apontaram o assalto ao navio que vinha de Soure a Belém, na semana passada, como a gota d’água para que se tome uma atitude radical de combate aos piratas. O autor da sessão afirma que não se pode planejar segurança pública no Pará sem levar em consideração os rios e a aquisição de equipamentos para policiamento fluvial.

Prefeitos dos municípios afetados pela criminalidade nas águas apelam por uma ação mais abrangente. Jaime Barbosa, prefeito de Cachoeira do Arari, alertou que além da desigualdade social no Marajó, a polícia local sofre com a falta de estrutura para atuar no combate ao crime, principalmente nos rios. Ele confessou que também já foi assaltado por três vezes em embarcações. Em uma delas, transportava o salário dos funcionários da prefeitura e, por sorte, os ladrões não levaram a bolsa com o dinheiro.

Segundo o prefeito, as prefeituras é que estão bancando reformas de delegacias, combustível para viaturas policiais, entre outros serviços. O representante da Polícia Militar na sessão, coronel Osmar Rocha, admitiu que a situação de insegurança nos rios do Pará é real, mas disse que desde fevereiro a segurança pública tem planejado ações para melhorar a prevenção e repressão ao crime no Marajó e Baixo Tocantins.

A primeira delas é conectar todos os 16 municípios por rádio, o que já está em funcionamento. Ele pediu ajuda das prefeituras para manter a parceria para segurança pública e anunciou que a partir deste mês a PM vai começar a controlar a entrada de pessoas a partir da ilha do Camará, entrada do Marajó.

Medo é companhia usual de quem viaja
Os ataques de piratas às embarcações têm sido cada vez mais frequentes. Na semana passada, 150 passageiros de um navio que partiu de Soure foram vítimas de um assalto comandado por onze “piratas”. Foram cerca de duas horas de pânico, com agressões e ameaças. O caso gerou repercussão e consequências na rotina de quem depende das travessias.

“Com esse negócio de piratas o pessoal parou de viajar no horário da noite, que é o mais perigoso. Antes o barco ia lotado, com mais ou menos 140 passageiros, e esse número reduziu pela metade porque as pessoas estão com medo”, conta o marítimo Everaldo Góes. Ele diz que nunca foi assaltado, mas conta que vários amigos já passaram por situações de terror e tiveram seus barcos atingidos por disparos. “Tenho ouvido muitas histórias, ultimamente tem acontecido frequentemente. Fico com medo, ainda mais quando se aproximam embarcações pequenas, como a ‘rabeta’. Na Ilha das Onças é pior, ela está tomada de piratas”, alerta Góes, que faz cerca de seis travessias por dia.

O pescador Manoel Gomes sempre atravessa o rio rumo a Abaetetuba. De acordo com ele, o temor é menor nos horários da manhã e nos trajetos curtos. “Para as localidades como Soure e Ponta de Pedras é mais perigoso, eles estão mais vulneráveis, principalmente de noite. Mas de manhã não deixa de dar uma tensão nos passageiros. Entrou no mar, já sabe que está sujeito a qualquer coisa ”. Ele também acredita que falta interesse das autoridades em fiscalizar. “Hoje a pirataria é uma epidemia, mesmo de dia eles atacam os ribeirinhos na baía. Eles têm armamento pesado e embarcações com motores potentes”, diz.

“Dá medo, a gente pensa que está seguro, mas não está. Não tem como se proteger, nem como evitar a travessia. Vou rezando na viagem”, afirma a dona de casa Marinea Lobato, que esporadicamente vai a Abaetetuba visitar a família. Maria do Socorro Assunção é cobradora e proprietária de um barco que faz travessias do porto do Ver-o-Peso. Sua embarcação já foi assaltada duas vezes há oito anos. “Esses assaltos vêm acontecendo há muito tempo. Agora eles estão agindo mais. Já levaram o reversor do nosso barco, que custa mais de 20 mil reais. Até hoje não conseguimos recuperar. Viajamos amedrontados”, explica.

Maria do Socorro reclama que os policiais sempre chegam com atraso quando acionados. Com a proximidade das férias, ela diz que a preocupação é ainda maior. “Nessa época as travessias são mais intensas. Não temos hora, o tempo todo estamos transportando, até de madrugada”.

O DIÁRIO contatou a Delegacia Fluvial da Polícia Civil, mas o delegado Samuelson Higaki declarou que somente hoje poderia passar dados ao jornal. (Diário do Pará)

Fonte: http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-135650-ACAO+DOS+PIRATAS+ESTA+FORA+DE+CONTROLE+NOS+RIOS.html (21/06/2011)

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