Piratas de Ilhabela?
Embarcação com talvez mais de dois séculos é encontrada na cidade do litoral norte paulista.
por Fernando Martines
Ilhabela é conhecida não só por sua enorme beleza natural, mas também por diversas histórias sobre piratas, tráfico de escravos e tesouros enterrados. Muitas têm fundamento, em relação a outras nada se sabe mais do que as lendas contam. Fatos ou mitos, como quê para dar força a essa aura histórica da cidade, uma embarcação, que provavelmente tem mais de dois séculos, foi encontrada na praia de Castelhanos e despertou a atenção de muitos: terá sido um barco de piratas?
A nau encontrada em Ilhabela, na praia de Castelhanos// Crédito: Vanessa de Paula/Divulgação
A embarcação veio à tona no início do ano, após as fortíssimas chuvas que assolaram a ilha. Na junção entre o rio e o mar na praia Castelhanos, a chuva foi lavando uma enorme quantidade de sedimentos até que uma parte da nau surgiu. Mas isso não era novidade para todos. “Eu já sabia que ela existia, que estava ali. E grande parte da população que mora perto também. Mas não divulgamos, porque quando algo assim é divulgado, muitas pessoas vão lá para ver, para mexer e até escavar para ver se encontra tesouros, o que pode deteriorar o achado”, explicou a arqueóloga Cintia Bendazzoli, responsável pelo Instituto Histórico e Arqueológico de Ilhabela.
Repentinamente apareceu e repentinamente sumiu. Quem for agora à praia Castelhanos, infelizmente, não irá ver a nau. Ela foi novamente soterrada pela ação da maré e já tem mais de um metro de sedimento sob si. E, pelo menos por enquanto, continuará soterrada. “Não podemos desenterrá-la e mantê-la exposta, isso causaria uma grande deterioração. O fato de ela estar soterrada a protege, pois mantém um nível baixo de oxigênio, a protege de intempéries como tempestades e ventos e o sal do mar é um agente de preservação também. Se ela estivesse fora da areia, provavelmente não estaria tão bem preservada como está”, diz Bendazzolli.
A arqueóloga Cintia Bendazzoli analisando a nau encontrada// Crédito: Tatiana Ferreira/Divulgação
A boa notícia para quem quer ver a nau com os próprios olhos é que não está descartada a possibilidade de ela ser desenterrada e ficar exposta num sítio arqueológico que seria ali criado. “Queremos fazer isso, mas tem que ser muito bem feito. Temos que garantir que as mesmas condições que preservam a embarcação, sejam mantidas quando a tirarmos da areia. Estamos estudando isso, só que no momento, a prioridade é preservá-la”.
Desmanche. Um barco debaixo de areia numa praia logo faz pensar que por algum motivo naufragou. A arqueóloga Bendazzoli afirma que essa é uma possibilidade, mas acredita mais em outro desfecho para a nau. “Ainda não conseguimos ver o casco, que está muito abaixo da terra. Mas por estar perto da praia, numa localização de barra, é mais provável que ela tenha sido abandonada. Isso era muito feito: pegar uma embarcação que estava velha e levar para a praia, fazer o desmanche, pegar todas as peças que estivessem boas e depois abandoná-la”.
Detalhe na cavilha da embarcação encontrada em Ilhabela// Crédito: Cintia Bendazolli/Divulgação
Outra dúvida é quão antiga é esta nau. Um pequeno pedaço da embarcação foi enviado a um laboratório em Miami, que fará o teste de datação e verificar a idade do objeto. Mas Bendazolli tem pistas: a madeira utilizada é pinho de riga; pranchas de madeiras largas; pregos de madeira; ferro apenas em dobras e acabamentos. Estes elementos são comuns de barcos construídos nos séculos XVII e XVIII. O pinho de riga, aliás, é uma madeira originária da Eurásia, o que aponta que a embarcação veio de fora do país. Já o método de construção parece confessar que a nau veio do norte da Europa, já que era muito comum na Inglaterra e Holanda.
Agora, o que todo mundo quer saber: era um barco de piratas? Pode ser que sim. “É verdade, era muito comum a presença de piratas em Ilhabela nos séculos passados. Mas não só na ilha: eles iam muito para São Sebastião e até Santos e São Vicente, que eram cidades com muito mais a oferecer do que Ilhabela. A nau que achamos pode ser de pirata, mas não necessariamente. Pode ter sido usada para transporte, carga. Ela conta com uma escotilha grande, o que facilitava a entrada de mercadorias grandes, então pode ter sido uma embarcação de carga”. Para confirmar, só com mais testes.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI237813-17770,00-PIRATAS+DE+ILHABELA.html (01/06/2011)
por Fernando Martines
Ilhabela é conhecida não só por sua enorme beleza natural, mas também por diversas histórias sobre piratas, tráfico de escravos e tesouros enterrados. Muitas têm fundamento, em relação a outras nada se sabe mais do que as lendas contam. Fatos ou mitos, como quê para dar força a essa aura histórica da cidade, uma embarcação, que provavelmente tem mais de dois séculos, foi encontrada na praia de Castelhanos e despertou a atenção de muitos: terá sido um barco de piratas?
A nau encontrada em Ilhabela, na praia de Castelhanos// Crédito: Vanessa de Paula/Divulgação
A embarcação veio à tona no início do ano, após as fortíssimas chuvas que assolaram a ilha. Na junção entre o rio e o mar na praia Castelhanos, a chuva foi lavando uma enorme quantidade de sedimentos até que uma parte da nau surgiu. Mas isso não era novidade para todos. “Eu já sabia que ela existia, que estava ali. E grande parte da população que mora perto também. Mas não divulgamos, porque quando algo assim é divulgado, muitas pessoas vão lá para ver, para mexer e até escavar para ver se encontra tesouros, o que pode deteriorar o achado”, explicou a arqueóloga Cintia Bendazzoli, responsável pelo Instituto Histórico e Arqueológico de Ilhabela.
Repentinamente apareceu e repentinamente sumiu. Quem for agora à praia Castelhanos, infelizmente, não irá ver a nau. Ela foi novamente soterrada pela ação da maré e já tem mais de um metro de sedimento sob si. E, pelo menos por enquanto, continuará soterrada. “Não podemos desenterrá-la e mantê-la exposta, isso causaria uma grande deterioração. O fato de ela estar soterrada a protege, pois mantém um nível baixo de oxigênio, a protege de intempéries como tempestades e ventos e o sal do mar é um agente de preservação também. Se ela estivesse fora da areia, provavelmente não estaria tão bem preservada como está”, diz Bendazzolli.
A arqueóloga Cintia Bendazzoli analisando a nau encontrada// Crédito: Tatiana Ferreira/Divulgação
A boa notícia para quem quer ver a nau com os próprios olhos é que não está descartada a possibilidade de ela ser desenterrada e ficar exposta num sítio arqueológico que seria ali criado. “Queremos fazer isso, mas tem que ser muito bem feito. Temos que garantir que as mesmas condições que preservam a embarcação, sejam mantidas quando a tirarmos da areia. Estamos estudando isso, só que no momento, a prioridade é preservá-la”.
Desmanche. Um barco debaixo de areia numa praia logo faz pensar que por algum motivo naufragou. A arqueóloga Bendazzoli afirma que essa é uma possibilidade, mas acredita mais em outro desfecho para a nau. “Ainda não conseguimos ver o casco, que está muito abaixo da terra. Mas por estar perto da praia, numa localização de barra, é mais provável que ela tenha sido abandonada. Isso era muito feito: pegar uma embarcação que estava velha e levar para a praia, fazer o desmanche, pegar todas as peças que estivessem boas e depois abandoná-la”.
Detalhe na cavilha da embarcação encontrada em Ilhabela// Crédito: Cintia Bendazolli/Divulgação
Outra dúvida é quão antiga é esta nau. Um pequeno pedaço da embarcação foi enviado a um laboratório em Miami, que fará o teste de datação e verificar a idade do objeto. Mas Bendazolli tem pistas: a madeira utilizada é pinho de riga; pranchas de madeiras largas; pregos de madeira; ferro apenas em dobras e acabamentos. Estes elementos são comuns de barcos construídos nos séculos XVII e XVIII. O pinho de riga, aliás, é uma madeira originária da Eurásia, o que aponta que a embarcação veio de fora do país. Já o método de construção parece confessar que a nau veio do norte da Europa, já que era muito comum na Inglaterra e Holanda.
Agora, o que todo mundo quer saber: era um barco de piratas? Pode ser que sim. “É verdade, era muito comum a presença de piratas em Ilhabela nos séculos passados. Mas não só na ilha: eles iam muito para São Sebastião e até Santos e São Vicente, que eram cidades com muito mais a oferecer do que Ilhabela. A nau que achamos pode ser de pirata, mas não necessariamente. Pode ter sido usada para transporte, carga. Ela conta com uma escotilha grande, o que facilitava a entrada de mercadorias grandes, então pode ter sido uma embarcação de carga”. Para confirmar, só com mais testes.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI237813-17770,00-PIRATAS+DE+ILHABELA.html (01/06/2011)
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