Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

Dirigido por Rob Marshall. Com: Johnny Depp, Penélope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane, Kevin McNally, Sam Claflin, Astrid Berges-Frisbey, Stephen Graham, Richard Griffiths, Judi Dench, Gemma Ward e Keith Richards.

Por Pablo Villaça

Foi com certa surpresa que reparei, durante os créditos finais de Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, os nomes de profissionais encarregados de treinar o elenco em “nado sincronizado” – algo que, imagino, tenha sido utilizado nas seqüências envolvendo sereias. A “surpresa” e o “imagino” da frase anterior, aliás, têm origem no fato de que esta suposta coreografia indicada nos créditos jamais é claramente observada no filme, num indício preocupante de que a direção capenga de Rob Marshall, visualmente poluída e entediante, desperdiçou até mesmo os recursos previstos pela produção.

Sugerido por um livro de Tim Powers, o roteiro da dupla Ted Elliott e Terry Rossio, responsável pela trilogia original, desta vez descarta vários dos personagens vistos anteriormente (incluindo aqueles vividos por Orlando Bloom e Keira Knightley) com o objetivo de reiniciar a franquia a partir de novas aventuras e figuras míticas. Usando como base da trama a lendária Fonte da Juventude perseguida por Ponce de León, Piratas 4 traz ingleses, espanhóis e piratas numa corrida em busca das lendárias águas rejuvenescedoras – entre estes últimos, o capitão Jack Sparrow (Depp), que, a bordo do barco comandado pelo cruel Barbanegra (McShane), lida também com a ex-amante Angelica (Cruz), que alega ser filha do vilão. Enquanto isso, o capitão Barbossa (Rush), agora no comando de uma embarcação real, mostra-se determinado não só a encontrar a Fonte, mas também Barbanegra, responsável por arrancar-lhe uma das pernas.

Embora traga personagens já bastante conhecidos do público em um universo fartamente explorado ao longo de três filmes, o roteiro de Elliott e Rossio parece determinado a empregar páginas e páginas em diálogos puramente expositivos que visam estabelecer as regras da nova história – e o excesso de exposição chega a ser comentado pelos próprios roteiristas em uma cena na qual Sparrow, depois de oferecer mais uma explicação detalhada, percebe estar falando sozinho (o que, claro, não corrige o problema, que atinge seu ápice na cena em que Barbossa conta o que houve com o Pérola Negra enquanto Marshall se limita a incluir alguns efeitos sonoros para acompanhar a fala do pirata). Além disso, provavelmente achando que a ausência de Bloom e Knigthley diminuiria o apelo romântico do projeto, o filme introduz um novo casal, o religioso Philip (Claflin) e a sereia Syrena (Berges-Frisbey), que consegue a proeza de se revelar mais aborrecido do que seus antecessores.

Aliás, chega a ser espantoso que um longa envolvendo piratas, sereias e zumbis seja tão entediante – e embora seja o exemplar mais curto da série, com cerca de 130 minutos, Piratas 4 soa como o mais longo. Igualmente chocante é perceber que, ainda que gastem tanto tempo com exposições, os roteiristas não se preocupam em explicar a origem da profecia sobre Barbanegra (que, afinal, praticamente move o filme), além de abrirem a narrativa com uma descoberta cuja natureza também é ignorada (de onde veio aquele sujeito?) e que nos apresenta aos exploradores espanhóis apenas para basicamente ignorá-los durante a maior parte da projeção. E sei que já mencionei o pastor/catequizador, mas vale repetir que, de tão aborrecido, desejei sua morte desde sua primeira aparição em cena.

Mas que chance o inexpressivo Sam Claflin tinha de tornar o personagem interessante se até mesmo o talentoso Ian McShane fracassa diante da chatice que é o Barbanegra concebido por Elliott e Rossio? E se Penélope Cruz surge bela como de hábito, este é o único elogio que pode ser feito à sua Angélica, ao passo que Geoffrey Rush, como Barbossa, ao menos consegue divertir moderadamente ao retratar os esforços do pirata para parecer civilizado em seu novo posto. O que, claro, nos traz a Johnny Depp e ao seu icônico Capitão Jack Sparrow, que, ao tornar-se o centro absoluto do projeto, apenas comprova aquilo que eu já havia apontado ao escrever sobre Piratas 3: o pirata funciona bem melhor em doses homeopáticas, tornando-se cansativo como uma piada que se ouve várias vezes em pouco espaço de tempo. Da mesma maneira, se antes os maneirismos e excentricidades de Sparrow ajudavam a compor o personagem, desta vez se revelam sua razão de ser – e mesmo que aqui e ali vislumbremos o velho anti-herói (como ao arrastar os pés ao ser carregado por oficiais ingleses), na maior parte da narrativa apenas vemos Depp no mais puro piloto automático. Como se não bastasse, até mesmo as pontas de Richard Griffiths, Judi Dench e Keith Richards são desperdiçadas – ainda que este último seja responsável pela melhor piada do roteiro.
Injustamente alçado à condição de cineasta respeitado depois de dirigir burocraticamente o bom musical Chicago e o fraco Memórias de uma Gueixa (prefiro não comentar Nine), Rob Marshall aqui escancara sua falta de competência como realizador ao transformar as seqüências de perseguição em momentos burocráticos que não conseguem nem mesmo estabelecer um ritmo apropriado. Além disso, é impressionante sua tendência de repetir aquelas que considera como sendo “boas idéias”, já que chega ao ponto de apresentar quatro personagens diferentes da mesma maneira, ocultando seus rostos até decidir revelá-los de forma “surpreendente” (leia-se: bleh) – e é igualmente ridículo que, na cena envolvendo as sereias, ele repita duas ou três vezes o mesmo movimento de câmera para mostrar as caudas submersas das criaturas depois de enfocar seus belos torsos fora da água. Para piorar, as lutas e duelos de espadas são coreografados sem a menor inventividade, ao passo que a utilização do 3D, além de não contribuir em nada com o projeto, apenas torna Piratas 4 ainda mais fraco visualmente, já que, basicamente ambientado à noite, o filme se torna excessivamente escuro e esteticamente desinteressante.

Felizmente, o design de produção da franquia mantém o padrão habitual, destacando-se na concepção do barco comandado por Barbanegra, que surge com mastros gigantescos e acinzentados e vastas velas em tons sépia. Além disso, o armário que traz navios engarrafados é uma idéia fascinante, mesmo que mal utilizada pelo filme – que, em vez de explorá-la, prefere investir em cenas tolas e descartáveis como aquela que traz Sparrow e Barbossa se equilibrando no interior de uma embarcação prestes a despencar de um barranco (o interessante é que, de acordo com o longa, se alguém segurar um objeto que já se encontrava ao seu lado, o peso será alterado, desequilibrando o barco).

Apostando em zumbis que não são realmente zumbis, sereias que não são realmente sereias e piratas que parecem mais interessados em fazer graça do que soarem ameaçadores, Piratas do Caribe 4 é uma experiência longa, chata e previsível – e Navegando em Águas com Sonífero seria um subtítulo muito mais apropriado à produção.
Observação: Como de costume, há uma cena adicional após os créditos finais.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas(2011)
Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides


Sinopse: O Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) se vê em uma jornada inesperada à Fonte da Juventude quando uma mulher de seu passado (Penelope Cruz) o força a entrar a bordo do Vingança da Rainha Ana, o barco do famoso pirata Barba Negra (Ian McShane).

Estréia: 20/5/2011 (Original) 20/5/2011 (Brasil)

Fonte: http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7726&id_filme=6427&aba=critica (18/05/2011)

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